terça-feira, 17 de agosto de 2010

Este Inferno de Amar


Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n'alma... quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é a vida - e que a vida destrói -
Como é que se veio a atear,
Quando - ai quando se há de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez... - foi um sonho -
Em que paz tão serena a dormi!
Oh! que doce era sonhar...
Quem me veio, ai de mim! despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos, que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus,
Quê fez ela? eu que fiz? - Não no sei;
Mas nessa hora a viver comecei...

(GARRETT, Almeida. In: Lírica completa. Lisboa, Arcádia, 1971.p.368-9)

Nenhum comentário: