quarta-feira, 21 de setembro de 2011

A Ovelha Bastarda




A última sinfonia entoada pelas árvores no crepúsculo
Das arritmias de minha alma com os pulsos sangrando,
E tudo o que senti, vi, procurei, quis, passa ofuscando
Em um efêmero segundo nas retinas antes ávidas de viver; porém pulo



Em meu próprio auto-abismo, rendo-me enfim a navalha da Tristeza.
Queria antes disso ver pela última vez o sorriso da Inocência
Encarnados no rosto lírico que emana de meu sobrinho da Vida a beleza,
E que tanto busquei dentro de mim, no mundo, e no âmago da Ciência.




Clamam a mim em todos os meus átomos os múltiplos olhares
De todos os cadáveres, abrindo as portas do Desconhecido
Para o Cosmo metafísico, e das personas em quem eu poderia ter sido;
_ “Bem-Vindo Irmão”, saúda-me a Morte aspergindo os mares



Eternos das decomposições, dos rios de vermes, no fogo eterno do esquecimento
Onde meu ser abraçou com tanto fervor, sede, volúpia e castidade o mundo e a vida,
E eu vago sozinho sem memória, sem corpo, sem esperanças no Hades, desprovida
A minha alma que sempre foi metafórica, vocabular, uma invenção do humano embrutecimento.




Não vos entristeçam pai e mãe com meus erros, pecados e minha ida definitiva;
Não procureis em vós mesmos, e nem no mundo, remorsos, culpados e ressentimentos;
Vós não necessitais buscar as causas e explicações para de meu ser os reais desmoronamentos,
Seis irmãos: lembrem-se de que dentro de vós alguma fagulha de mim permanecerá viva.



Os Lírios de nossa infância (meu genial e lindo irmão de 1982)
Ainda inebriagam com alegria o quintal, as aventuras, a antiga casa;
Éramos sim tão felizes, mas sou agora uma casca vazia, morta, sem asa;
E de tanto mergulhar em nossa infância, perdi-me do Hoje e de todo Depois.




Cantando, blasfemando, festejando de tão ébrio da Vida como seu maior adorador,
No barco de Caronte sigo rindo de Deus, de mim mesmo e dos divinizados Nadas;
Prostituí-me com o Inferno depois do divórcio da Vida com suas ciladas:
Ao me vender e me trair com um beijo e por duas moedas; eu: seu amante de tanto ardor.         


   


Fiz da Morte e da Vida minha tragédia e meu drama quixotesco,
Onde usei máscaras, fiz amigos, chorei alegrias e orvalhei lágrimas;
Dói de antemão a ausência de novas músicas, outros livros, tudo o que é burlesco
Em nossas vidas, cujo amanhã estenderá uma outra mão para escrever rimas



Num outro contexto social, histórico, cultural, no mesmo ciclo repetitivo;
Onde meu corpo, minhas palavras, minha consciência se dissiparão no inaudito coração.
Um último gole a fim de que zombemos face-a-face o absurdo de tudo o que é vivo,
Ou o que é suposto como real, molecular, ou divino; risível e belo são os réquiens da criação.








Gilliard Alves Rodrigues


5h32min
21-09-11 
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