sábado, 28 de junho de 2008

O RISO TAMBÉM PODE CURAR


Um comediante conta como o humor o ajudou a se recuperar

Por Robert Schimmel

Lembro- me da primeira vez em que entrei na Clínica Mayo, em Scottsdale, Arizona, depois de receber o diagnostico de câncer. O que ví ali me trouxe à memória aquela gravura de seres em fila, representando a evolução do homem.

Só que o que eu estava vendo era uma fileira de paciêntes de quimioterapia esqueléticos e pálidos, perdendo os cabelos, com tubos nos braços. Basta de evolução, brinquei comigo mesmo. E esse foi o início do meu caminho para a recuperação.

Desde menino sou fascinado pelo poder do riso. Meus pais, sobreviventes do Holocausto, tinham um senso de humor fantástico e me apresentaram a alguns dos maiores comediantes do nosso tempo. Cresci assistindo a Jackie Gleason, Ernie Kovacs, Sid Caesar, Jonathan Winters, aos Três Patetas e aos Irmãos Marx.

Quando criança, aprendi que, se você consequisse fazer as pessoas rir, todos gostariam de você. E a sensação que eu experimentava fazendo isso era viciosa. Naquela época eu não tinha como saber que o poder do riso salvaria minha vida.

Em março de 1999, participei de um festival nacional de comédia em Aspen, Colorado, um encontro de muitos dos melhores comediantes e dos executivos de Hollywood que podem contrata- los. Fui o assunto do festival.

Poucos dias depois me ofereceram um especial no HBO. À seguir, veio um contrato para o meu terceiro CD de piadas.

Logo, redes de televisão estavam me oferecendo minha própria série, e a FOX escolheu meu espetáculo Schimel para sua programação no outono de 2000.

Em 2 de junho desse ano, cheguei a Las Vegas para minha primeira apresentação no Monte Carlo Resort & Casino. No aeroporto, vi um cartaz gigantesco com minha foto. Do lado de fora do hotel havia outro cartaz, com meu nome e as datas do espetáculo. Eu estava a caminho do estrelato, e num fohuete.

Dois dias mais tarde, eu me senti exausto e febril, e fui ao médico. Pensei que tivesse contraído uma gripe. Ele encontrou um pequeno nódulo sob meu braço esquerdo e perguntou quanto tempo ele estava ali. Eu não sabia. Não havia notado. Então o médico pediu uma tomografia computadorizada e uma biópsia. Quando acordei na sala de recuperação, havia um grande curativo em minha axila direita. O médico entrou e disse que encontrara um nódulo grande, mais ou menos do tamanho de um damasco, sob meu braço direito. A próxima coisa de que me lembro é estar em seu consultório, acompanhado por meus pais e minha mulher. O médico entrou com os exames. E disse que o módulo era maligno. Câncer. Um linfoma do tipo não- Hodgkin. Que sorte, eu disse. Tenho o que não recebeu o nome do sujeito.

O mais difícil foi contar aos meus filhos. Essa não era nossa primeira experiência com câncer. Em 1992, eu perdera meu filho Derek, aos 11 anos, com um tumor no cérebro. Agora meus outros filhos iam me ver passando pelo mesmo tratamento pelo qual elepassara. Eu sabia que tinha de fazer oque pudesse para memanter positivo- para tentar eliminar o medo deles de me perderem também.

Como meu câncer jáhavia se disseminado por metástase, a terapia de radiação não era uma opção. Eu me submeteria à quimioterapia. Teria seis meses de vida se esse tratamento não funcionasse e, se desse certo, seriam 49% de chance de passar dois anos sem uma recidiva. Mais um problema: havia o risco de me tornar estéril e não poder ter outros filhos.

- Se eu morrer- disse à minha mulher- peço desculpas por todas as coisas ruins que fiz à você.

- E se você não morrer?- ela respondeu- Ainda vai pedir desculpas?

Em meu primeiro dia na Clínica Mayo, sentei- me ao lado de um sujeito chamado Bill, que também estava se submetendo à quimioterapia. Ele tinha seus 50 e tantos anos. Era magro e os cabelos, ralos. Perguntei como estava passando.

- Como é que você acha que estou?- replicou ele- Eu estou com câncer.

Tentei iniciar uma conversa.

- Meu nome é Robert. Também estou com câncer!

- Este deve ser seu primeiro tratamento, Robert. Vamos conversar de novo depois do segundo ou terceiro. Então veremos se você ainda estará otimista.

A enfermeira sugeriu que eu mudasse de lugar. Ela disse que Bill tinha uma atitude negativa e que as pessoas como ele derrubam todo mundo com elas.

Mais tarde, um dos médicos me disse que, quando o assunto é câncer, existem dois tipos de pessoas: as transmissoras e as transformadoras. As primeiras absorvem a experiêncianegativa e transmitem negatividade para todos ao seu redor. O outro grupo transforma a negatividade em algo positivo. Embora eu não soubesse desses termos quando conheci Bill, já havia decidido ser um transformador.

Perguntei a Bill se ele participava de algum grupo de apoio. Ele disse que não gostava de ficar ouvindo um monte de histórias chorosas de estranhos. Eu disse que fora à reunião de um desses grupos na noite anterior, a fim de me preparar para o que estava por vir. Contei que uma mulher lá estava preocupadaporque o marido poderia deixar de achá- la sexy quando começasse a perder os cabelos.

Eu disse a Bill que olhei para ela e pensei: Sexy? Minha senhora, se acha que sua aparência agora é sexy, talvez também precise de um exame de vista. Ele começou a rir.

As enfermeiras perguntaram o que eu tinha lhe dito; elas nunca o tinham visto sorrir. E, quando cheguei para a sessão de quimioterapia seguinte, lá estava Bill, guardando um lugar para mim. Nós contamos piadas o dia todo, enquanto recebíamos o tratamento.

Comecei a trazer CDs de piadas para a clínica, e passei a ouvi- los durante o tratamento. Antes que eu percebesse, a sessão havia acabado. Emprestei meus CDs para outros pacientes. Logo, eles também estavam rindo.

No hospital, prometi a mim mesmo que, se saísse de lá, jamais me esqueceria daqueles que ainda estavam lutando contra a doença. Tamvém fiz uma promessa ao meu médico: eu usaria a comédia para aumentar a consciência da sociedade em relação ao câncer- e não pararia de fazer as pessoas rir até que ele não tivesse mais paciêntes.

Quando você recebe um diagnóstico de câncer, começa a negociar com Deus: "Permita que eu supere isto e cuidarei melhor de mim mesmo. Colocarei minhas prioridades em ordem. Aprenderei a viver a cada dia ao máximo." Uma vez, durante uma sessão de quimioterapia, pensei: Não é triste que você precise ficar doente antes de se permitir viver a vida ao máximo?

Em 5 de junho de 2000, eu acreditava que jamais veria a luz no fim do túnel. No entanto, de um modo estranho, é como se o câncer fosse o primeiro brilho dessa luz. Para mim, ficar doente foi uma dádiva. Antes, eu passava minha vida na escuridão como um cavalo com antolhos.

Quando recebí o diagnóstico, os antolhos caíram. Agora estou me aquecendo na luz.

Mais uma coisa: em 5 de junho de 2003, nasceu meu filho Sam, três anos após o dia que me disseram que eu estava com câncer.

Fonte: SRD

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