segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O pássaro celestial

de Anderson Nascimento




No cair de uma noite um rápido canto se iniciou. Mas contrário do que pensavam a canção não era produzida por nenhum humano e sim por um pássaro.


        Neste pequeno vilarejo todos já estavam acostumados a viver de um modo passivo, a escutar belas melodias da natureza, mas nada se comparava ao som do tal pássaro.


         Poetas do vilarejo definiam seu som como uma nova moradia, um modo de viajar no interior dos pensamentos.


         Simplesmente celestial e surreal.


         E assim ficou conhecido, o pássaro celestial. Só havia um problema, apenas no cair da noite de cada estação o pássaro cantava. Tentaram caçá-lo, vê-lo de alguma maneira sendo todas as tentativas em vão.


         Sua voz surgia do nada e a notícia do pássaro que cantava acalmando a alma se espalhou entre todos. Então no começo de cada estação uma multidão se reunia no centro do vilarejo e escutavam silenciosa a canção do pássaro. Quando encerrada, uma fogueira era acesa e todos festejavam pelo resto da noite.


         Certa vez o rei do vilarejo onde o pássaro cantava ordenou que o capturassem.  Por duas estações o pássaro foi visto antes de partir e na última do ano, num reflexo que o caçador julgou ser sorte, conseguiu capturá-lo.


         Toda a multidão protestou, mas nada poderiam fazer contra o rei. O motivo dele tanto querer o pássaro era absurdo: sua amada estava triste, então talvez a tal canção tão aclamada a alegrasse um pouco.


         Indignados, os moradores do vilarejo se perguntavam por que a esposa do rei não poderia vir ao vilarejo escutar a canção junto a eles, os pobres.


         E assim muitos falatórios começaram. Diziam que o rei não amava verdadeiramente sua esposa e que tinha inúmeras amantes. Informantes disseram os fatos ao rei e este ordenou que todos aqueles contra o seu favor, fosse morto secretamente.


         E assim começou a matança. O vilarejo perdeu sua verdadeira essência e era evacuado. Não festejavam mais junto ao canto do pássaro. As estações se tornaram mais sombrias sem ele. Enquanto isso dentro do castelo a esposa do rei se mostrava mais bela e amável a cada novo dia. Graças ao pássaro que cantava para ela todas as manhãs.


         Mas de uma coisa ninguém sabia: o pássaro era de fato celestial, conseguia falar. Ele saia do castelo todas as noites e ao retornar contava tudo à esposa do rei, desde as traições até as mortes desnecessárias ordenadas por seu cruel e ganancioso marido.


         Numa manhã qualquer o pássaro cantou acordando todo o castelo. O rei que havia passado a noite fora subiu até o quarto para ver sua amada. Abrindo a porta ela dormia angelicalmente, o rei se aproximou e pegou sua mão que estava fria e rígida. De seu peito já não se sentia mais as batidas do coração.


         Abalado o rei mirou todo o quarto e travou o olhar na gaiola que estava aberta. E logo outra guerra começou só que desta vez dentro do castelo. O rei a principio acusou o pássaro de matar sua esposa, o que causou muitos risos.


         Dois dias depois de má compaixão e profunda tristeza, o rei acusou a todos e matou cada um na calada da noite, cavando seu próprio túmulo na entrada do castelo.


         Os dias passaram e ninguém percebeu o silêncio do castelo, pois o rei era detestável e por isso ninguém queria ir vê-lo. No inverno, um informante chegou ao castelo e saiu no mesmo instante sem voz.


         A notícia se espalhou aos poucos, o castelo estava repleto de pessoas mortas indo de meros trabalhadores até o rei. Cobiçando a riqueza do rei morto, outros reis vieram visitar o castelo exigindo explicações dos moradores que ali ainda residiam.


         Eles contaram sobre toda a história do pássaro e ninguém acreditou, acabando como os culpados e em três dias o vilarejo foi extinto do mapa.


         Na metade do verão um rei gozava a vida como nunca. Ele matou inúmeras pessoas de vários reinos, mas julgou o feitio como positivo, pois conseguiu ficar com a maior parte das riquezas.


         No cair da noite uma canção foi ouvida no quarto deste rei. Próximo à janela um pássaro cantava tristemente. O rei se aproximou e recordou das histórias contadas pelos moradores do extinto vilarejo.


         Movido pela ganância o rei mirou o pássaro e o agarrou. Mas não conseguiu e caiu do alto do seu castelo. O pássaro seguiu pela noite mudo, nunca mais cantou.




Autor: Anderson Nascimento
-Direitos Reservados-


Dê ao autor os devidos créditos!

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