"Como Priscila gostava de flores!
Havia em sua casa um jardim muito bonito. E era nele que Priscila gostava de ficar. Passava ali o maior tempo que podia, conversando com as flores.
E não é que as flores conversavam com ela? A todas Priscila conhecia. As rosas amarelas, as rosas brancas, os cravos, as margaridas... Uma infinidade de flores.
Um dia, Priscila resolveu fazer um concurso para ver qual era a flor mais bonita.
Entrou em casa e preparou a faixa, uma faixinha pequenina, e escreveu nela o título de Rainha da Beleza.
Depois, ficou preocupada. E as outras espécies de flores? As que perderssem? Não iriam ficar contentes, não é mesmo?
O coraçãozinho de Priscila não resistiu, e ela preparou uma porção de faixinhas: Rainha da Graciosidade, Rainha do Perfume, uma porção de títulos. E para o cravo? Ah! Já sabia. E preparou uma faixa: Rei da Simpatia.
Assim, ninguém ia se aborrecer. Cada flor ia receber um título. A mais bonita de cada espécie, é claro.
Mas e as outras flores que não eram as mais bonitas? Então, ela fez mais faixinhas: Rainha da Beleza II, Rainha da Beleza III, e não sei quantas para todos os títulos.
Finalmente Priscila realizou o concurso. Uma por uma, as flores foram sendo eleitas. Logo, todas estavam com uma faixinha. Era sorriso por toda a parte.
Foi então que Priscila ouviu um suspiro e uma voz:
- Só de mim ela não lembra!
Priscila procurou quem havia dito aquilo.
- Ué! Será que esqueci alguma flor?
Ouviu outro suspiro, procurou entre as folhas, e encontrou uma violeta.
- Eu não sabia que você morava aqui!- Disse Priscila, admirada.
- É porque sou muito humilde que ninguém lembra de mim!
- Nada disso! Aí é que está o seu valor!
Priscila entrou correndo, fez uma faixinha muito pequenininha, voltou correndo e colocou na violeta.
- Você está eleita a Rainha da Simplicidade. Só que não deu tempo de escrever o título. Também, não dava. A faixa é tão pequenininha...
A violeta ficou toda contente, depois saiu de mansinho e sumiu entre as folhagens."
Quando pequenina minha mãe comprou-nos uma coleção de livros onde cada um representava uma matéria. No livro de Português, na última página encontrei este singelo conto. Lí e reli várias vezes. Lembro-me até hoje como minha imaginação voava solta, quase que visualizando o jardim com tantas flores, o trabalho da menina em fazer tantas faixas e eu pensava: "Mas são tantas faixas e tão pequenas!Que trabalhão!"
Meses atrás, fui até a casa de mamãe vasculhar os livros antigos e tive um novo encontro no jardim de Priscila. Cresci nunca me esquecendo a bela mensagem oculta nestas linhas e hoje compartilho, lembrando a lição das violetas: para que suas delicadas pétalas se desenvolvam perfeitas e viçosas, elas brotam em botão escondidas por debaixo da folhagem.
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