quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Dicções e Ilusões


E se o que pensas ser verdadeiro não for,
O que irás então fazer?
Substituir uma mentira por outra mais convincente?
E se nunca fostes o que supõe quem sejas?
Isso vem dos seus pensamentos, seus sonhos e visões


Arrancados de suas reflexões, dicções e indecisões...
Construindo caixões para as almas que deixastes para morrer,
Bebendo absinto em homenagem aos mistérios filosofados,
De tudo que você não deveria nunca deixar para trás...


Não posso continuar desenterrando rosas de meu próprio túmulo,
Os raios faíscam mais uma noite soterrada de tristezas asfixiantes,
E todas as crianças deixaram suas lágrimas nas calçadas, e foram pra casa.
As cidades alvejadas com sangue patriótico tornam-se reconhecidas pelos pés,
Pelas imagens que ocultam os véus da Ilusão,


Pela mágoa que consideras ser tua única amiga...
Alguém dirá: o que foi perdido pode ser encontrado...
Apesar da tua Ira, és apenas mais um pássaro engaiolado;
“É preciso ser criança para se entrar no Reino de Deus”,
Suavemente presos e seduzidos sob nosso céu protetor.


Contudo os Lírios do Campo, em sua infinita sabedoria, cantavam:
_ Pois o divinizado Verbo tem olhos, mas não vê;
Tem ouvidos, porém não ouve;
Tem pés, todavia não caminha;
E de sua boca entalhada a mudez onipresente emana.


O Sossego não virá para este sonolento corpo cansado de sempre estar cansado,
Última chance para fingir crer no amor e em tudo que ele aparenta ser e abdicar,
Exaustas sinfonias tocam as lágrimas de meus sonhos,
No calvário de ser a si mesmo nesse mundo idealizado,


Onde a beleza de meus versos solitários copula com o Suicídio,
Nesse cintilar anacrônico que leva o nitroso amanhecer à exaustão;
O túmulo que carrega o meu nome costurado em minha sombra,
E transparece em um sonho esfumaçado a pura criança molestada que fui...


Contudo não vou negar a minha dor tão sagrada e prazerosa,
Vagando através das neblinas cristalinas da noite,
Entre os milharais amaldiçoados de almas devastadas,
Que retornam de suas guerras cotidianas com as mentes desfiguradas e amputadas.


Meu rosto tão assustado volta-se para os vultos das ruínas do passado,
Os terrores encobertos da alma e os lares dilacerados,
Eu me tornei no meu próprio fim,
Toda finalidade é uma construção gramatical em si fictícia,


A luz e a escuridão estão em coma irreversível em meu ser,
Enquanto Deus chora a perdição inexorável
De sua mais tenra, virtuosa e casta ovelha que fui outrora,


E um silêncio anestesiante de medo troveja entre os anjos petrificados do Paraíso,
Pois eu estou aqui embaixo atirando pedras sobre a ponte de minha sombra incendiada,
Enquanto a Paz e a Imortalidade embriagam-se do vinho eucarístico da Mentira.


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