quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Cântico do Calvário

[Nota:Não é (como nunca é) a estrutura, os decassílabos brancos ou o estilo em que se enquadra (no caso aqui Lirismo) que me faz sentir seduzida por um poema... É o motivo ou circunstância que desencadeou a inspiração]



à memória de meu filho
morto a 11 de dezembro de 1863


Eras vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto,- caíste! - Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
(...)

(VARELA,Fagundes. In: Poemas de Fagundes Varela. São Paulo, INL/Ciltrix, 1971.p.67-8.)

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