sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Autopsicografia


O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
*
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
*
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
que se chama o coração.
*
Fernando Pessoa

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