sábado, 28 de junho de 2008

Conhecer-se a si mesmo

O que impede, por vezes, que vos corrijais de um defeito, de um vício, é, certamente, que não vos apercebeis que o tendes. Enquanto vedes os menores defeitos do próximo, do irmão, nem mesmo suspeitais de que tendes as mesmas falhas, talvez maiores que as deles. Isto é uma consequência do orgulho que vos leva, como a todos os seres imperfeitos, a não achar nada de bom senão em vós. Deveríeis vos analisar como se não fosseis vós mesmos. Imaginai, por exemplo, que aquilo que fizestes ao vosso irmão, vos tivesse sido feito por ele. Colocai-vos em seu lugar: que farieis? Respondei sem idéia preconcebida, pois suponho que quereis a verdade. Assim fazendo, estou certo de que muitas vezes descobrireis defeitos vossos, que antes não havíeis notado. Sede francos convosco mesmos; travai conhecimento com o vosso caráter, mas não o aduleis, porque as crianças aduladas às vezes se tornam más e os aduladores são os primeiros a experimentar os efeitos. Voltai um pouco a sacola onde estão os vossos e os alheios defeitos. Ponde os vossos à frente e os dos outros para trás e cuidai que não tenhais de baixar a cabeça quando tiverdes a vossa carga à frente.

La Fontaine

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